O passageiro do caminhão que sobreviveu após se envolver em um acidente com um ônibus, em Taguaí, na região de Avaré, afirmou que não deu tempo de evitar a colisão no quilômetro 172 da rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, nesta quarta-feira (25). Mais de 40 pessoas morreram após a batida, entre elas o caminhoneiro Geison Gonçalves.
Ao G1, Danilo José Oliveira Camargo, que sofreu ferimentos leves, contou que descarregaram carga em Taquarituba na noite anterior e seguiu com Geison para Castro (PR), quando foram surpreendidos pelo ônibus na contramão da via realizando ultrapassagem.
A pista é de mão única e ultrapassagens são feitas na contramão em pontos específicos onde não há faixa continua. No local da batida, a ultrapassagem é proibida.
“Estávamos carregando em Taquarituba e, depois, dormimos. Saímos cedo e, depois de rodado cinco minutos após sair do posto, estávamos em uma curva, na nossa mão, quando o ônibus começou a ultrapassar. Meu amigo falou só ‘o ônibus’ e já batemos. Não deu tempo de nada. Meu amigo chegou a tirar o caminhão, mas não conseguiu e pegamos em cheio”, relatou.
Ainda segundo Danilo, o acidente foi chocante. “Eu fico triste pelo meu amigo e pelas famílias do ônibus. Muito triste. Só fico contente por não ter acontecido nada comigo”, diz.
O caminhoneiro Geison não tinha habilitação para dirigir caminhão, segundo informou a companheira ao G1.
Segundo ela, o companheiro não era habilitado para categoria D, tinha apenas habilitação provisória para carro e, por isso, levava outro caminhoneiro junto nas viagens. “Ontem, foi nossa última conversa à noite, quando ele me disse que tinha parado para dormir, que hoje acordaria cedo para viajar”, lembra.
Quando o corpo foi liberado, Geison será velado no distrito Abapã, no Paraná, na associação de moradores, segundo a companheira.
“Está sendo um momento muito difícil. Era um jovem trabalhador, era cheio de planos. Passamos o final de semana juntos, me contou dos seus planos para o futuro”, lamentou.
EMPRESA CLANDESTINA – A empresa de ônibus Star Viagem e Turismo, envolvida em um acidente com 41 mortos em Taguaí, não tinha autorização para operar, segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo, a Artesp. O G1 tentou contato com representantes da empresa, mas não obteve sucesso.
O G1 apurou que a empresa já foi multada várias vezes e era considerada clandestina pelo órgão fiscalizador. Nem no site da Artesp nem no da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) há registros sobre a Star Viagem e Turismo – empresa criada em 2016 e com sede em Taquarituba, segundo dados da Junta Comercial do Estado.
O veículo envolvido na batida, com placa DJC 8811, acumula 11 multas – 2 municipais, 1 do Detran e 8 do D.E.R. Além disso, estava com IPVA, licenciamento e DPVAT atrasados, ou seja, não poderia estar em circulação. São mais de R$ 5 mil em débitos.
Segundo a Artesp, “a empresa não possui registro para transporte de passageiros e roda ilegalmente desde 11 de outubro de 2019”.
A agência detalhou as fiscalizações mais recentes que envolveram a Star Viagem e Turismo: “Em ações fiscalizatórias recentes, no mês de março de 2020, foram registradas algumas infrações à empresa: no dia 3, a Star foi multada por realizar fretamento irregular na Rodovia Raposo Tavares, próximo ao km 296, em Avaré, ao realizar o transporte de 30 estudantes, que saíram da cidade de Fartura com destino a faculdade de Avaré. A empresa foi autuada, multada, o veículo foi retido e realizada a retirada dos passageiros. No mesmo dia, uma nova multa foi aplicada à empresa, por transportar, irregularmente, 43 estudantes com a mesma origem e destino. Dois dias depois, a empresa recebeu nova autuação por fretamento irregular na Rodovia Raposo Tavares (SP 270), próximo ao km 372, em Ourinhos, quando tiveram dois veículos autuados, retidos e realizado o transbordo dos 15 passageiros.”