O professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru foi afastado na manhã de quarta-feira, dia 6, após denúncias de assédio sexual. A decisão foi oficializada através de notificação emitida pelo setor de RH da universidade.
O afastamento do professor Marcelo Magalhães Bulhões, do departamento de Ciências Humanas, acompanha uma recomendação feita pela Comissão de Sindicância aberta pela universidade na última segunda-feira, dia 4, para investigar a conduta do professor.
A decisão ocorre depois da exposição de cartazes com mensagens de cunho sexual feitas pelo professor a alunas da universidade. Na suposta conversa, que teria acontecido em agosto de 2018, o docente teria comentado o desejo de manter relações sexuais com uma universitária. “A verdade é que nosso desejo não passa”, diz um dos trechos da conversa. Ele nega as acusações (veja abaixo nota na íntegra).
O afastamento do professor é pelo prazo de 180 dias, prorrogáveis uma única vez por igual período, sem prejuízo de vencimentos ou vantagens, segundo determina a legislação.
De acordo com a Comissão de Sindicância, a decisão pelo afastamento foi decidida após ampla discussão sobre os fatos e avaliação dos documentos que instruem o processo.
Segundo a diretora da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) e presidente do grupo administrativo do campus, Fernanda Henriques, o afastamento visa permitir a livre investigação do caso e também garantir ao professor o direito ao contraditório e ao princípio de presunção de inocência.
A comissão também pediu para que o departamento dos cursos ministrados pelo professor autorize uma reunião com os alunos a fim de elucidar sobre os procedimentos tomados até então.
A Unesp ainda relembrou que a formalização de denúncias pode ser feita pela Ouvidoria, com garantia do anonimato para evitar a exposição das vítimas.
Um boletim de ocorrência também foi registrado na quarta contra Marcelo Bulhões por três alunas do 3º semestre do curso de Relações Públicas. No relato que consta no BO, as estudantes relatam que em “todas as aulas” o professor fazia “comentários com conotações sexuais” e que tinham “medo de frequentar as aulas”. No momento, o inquérito policial não foi aberto.
A manifestação começou às 19h, durou cerca de duas horas e reuniu cerca de 200 alunos. Uma aluna, que preferiu não se identificar, participou da manifestação. Durante todo o período, segundo ela contou ao temmais.com, os estudantes ocuparam vários espaços do campus.
“O corredor todo cheio, estimo cerca de 100 a 200 pessoas. Tem muita gente ciente disso. O que a gente mais ouviu das falas são meninas que lembram que no primeiro dia de aula foram avisadas para tomar cuidado com o professor Marcelo Bulhões”, ressalta.
Para a aluna, é revoltante saber que o professor já esteve impune de outras acusações e processos instaurados na Unesp.
Estudantes da Unesp espalharam vários cartazes que exibem prints de supostas conversas de conotação sexual entre o professor e alunas da instituição.
Em nota, o professor apontou que ficou “estarrecido” ao saber dos cartazes afixados no campus com o teor acusatório, julgando a situação como “absurda”.
No posicionamento, o docente pontuou que os cartazes foram “anonimamente forjados e afixados no campus”. Além disso, ele destacou que, em “28 anos de trabalho em sala de aula”, não há “qualquer mínimo indício concreto do que se pode ser classificado como assédio”.
A Unesp, por sua vez, afirmou estar “atenta e acompanhando as manifestações que circulam nas redes sociais e em cartazes dentro do campus”.
A instituição ainda afirmou que “não medirá esforços para colaborar com as soluções de qualquer fato oficialmente demandado, tomando as medidas cabíveis, seguindo os protocolos administrativos com ética, responsabilidade e transparência”. Por fim, disse “repudiar toda e qualquer prática de assédio”.
Marcelo Bulhões foi acusado de assédio por alunas da Unesp em outras oportunidades. Em 2017, foi instaurada uma apuração preliminar de natureza investigativa a partir dessas denúncias. O processo culminou em uma sindicância administrativa contra o servidor, finalizada em 2018. À época, a comissão sindicante indicou o arquivamento dos autos com recomendações, tais como instauração de mecanismos para fomentar medidas educativas e elucidativas sobre assédio na universidade.
Sobre essa primeira sindicância, Marcelo Bulhões defendeu que o processo de investigação apontou “que nenhuma ação do teor de assédio foi cometida”.
Nota na íntegra de Marcelo Bulhões
“Foi com estarrecimento que fiquei sabendo que cartazes foram afixados no campus com teor acusatório a mim. Estou ainda chocado. De modo semelhante, foi com enorme e desagradável surpresa que em 2019, em postagem no Facebook, recebi uma acusação de assédio. Naquela altura, ao tomar conhecimento que um coletivo da Unesp havia feito acusações com esse teor, solicitei uma reunião com o grupo de alunas. Elas recusaram o diálogo. Solicitei essa reunião por, naquela altura, estar totalmente perplexo diante das acusações. Uma comissão de sindicância foi, então, constituída pela FAAC – Unesp. Após um processo de investigação, o arquivamento do processo se fez precisamente por afiançar que nenhuma ação do teor de assédio foi por mim cometida. No curso do processo, aliás, recebi depoimentos de incondicional apoio e elogio ao meu profissionalismo, escrito por dezenas de alunas que foram minhas orientandas (mestrado, doutorado e iniciação científica). Portanto, só posso afirmar que estou absolutamente estarrecido diante de uma situação que julgo absurda. Os cartazes, aliás, foram anonimamente forjados e afixados no campus. Sou docente da Unesp desde 1994, ou seja, trata-se de 28 anos de trabalho em sala de aula, tendo atuado ao lado de milhares de alunos, sem que qualquer mínimo indício concreto do que se pode ser classificado como assédio possa ser apontado. Atingem-me do modo mais vil. Entendo que legítimas e importantes demandas da atualidade – luta contra o racismo, movimento feminista – têm produzido uma mobilização de empatia diante de causas importantes. Nesse caso, todavia, estou sendo vítima de calúnia, cuja propagação em tempos digitais é implacável”.
(Informações e fotos: Temmais.com)