Queridos aranduenses (os natos) e aranduístas (por adoção), e todos que amam essa terrinha, sabemos que hoje Arandu está completando 56 anos de existência enquanto município, autônomo, livre e independente. Foi necessário muito trabalho e arrojo de muitos pioneiros, que ajudaram a escrever essa linda história desta “terra bela, livre e amada” como está eternizada no nosso Hino escrito pelo saudoso Nelson Biasoli. O Tempo passou, muitos baluartes se foram, hoje ficariam surpresos se voltassem por um imaginário túnel do tempo, e pudessem colher o fruto que semearam. O sonho, deu lugar ao progresso e a redenção, muita coisa mudou e continua mudando, os ramos de café eternizado no nosso brasão e bandeira, está dando lugar a soja, a banana, a laranja e outros produtos para atender as necessidades da nova demanda econômica. O que não mudou foi o azul de nossas águas límpidas, o verde exuberante das matas, o vermelho sangue de nosso solo fértil e a perseverança e hospitalidade de nossa gente, e que nessa data singela sintam se todos abraçados.
A Eleição de 7 de Março
Essa importante data (19 de março) se refere a posse dos primeiros mandatários que foram eleitos na eleição municipal ocorrida em 7 de março de 1965, quando 564 eleitores compareceram no pleito e escolheram o primeiro Prefeito, José Ferezin, o primeiro Vice-Prefeito, Diamantino M. da Gama, e os primeiros nove vereadores, sendo os senhores: Nelson Ferrazzini (primeiro Presidente da Câmara), Luiz Castilho, Oliveira B. Pereira, Marciano B. Pereira, Luiz P. Câmara, Anísio Lopes, Domingos Teixeira, Américo P. da Costa, Benedito F. Aguilar ( o vereador mais votado com 75 votos).
A Posse dos Eleitos
Nesse dia, os mandatários eleitos foram empossados no Grupo Escolar Pedro Bento Alves (hoje Prefeitura), foi escolhido por unanimidade como Presidente da Câmara o sr Nelson Ferrazini, que logo em seguida empossou seu irmão José Ferezin como 1º Prefeito de Arandu que no ato da posse proferiu a frase “prometo exercer com dedicação e lealdade o meu mandato, respeitando a lei e promovendo o bem geral do município”. Após a posse, José Ferezin fez um breve discurso, onde emocionado pediu a colaboração de todos, que fossem esquecidas as desavenças políticas, e enfatizou, “que agora é necessário à união de todos para que Arandu caminhe com as próprias pernas como é desejo de todos”.
O Trabalho Pioneiro
A Prefeitura Municipal foi instalada inicialmente no prédio nº 77 da Praça Dr João Coutinho de Lima (hoje Tabacaria) e a primeira Lei promulgada por Ferezin foi em 5 de maio de 1965 que dispunha sobre formação do quadro de funcionários, sendo os primeiros nomeados, a Sra Maria das Dores Passos, Secretária Municipal e o Sr Wadih Jabali, Tesoureiro. Assim a instalação do município de Arandu, exigiu um trabalho hercúleo, não havia um prédio próprio, mobiliário, equipamentos, veículos, máquinas, nem um sistema efetivo de arrecadação, tudo foi iniciado do zero por esses pioneiros, diferentemente dos dias atuais.
A primeira sessão da Câmara Municipal ocorreu em 27 de março de 1965, também nas dependências do antigo Grupo Escolar Pedro Bento Alves, onde os digníssimos vereadores, deliberaram sobre matérias pertinentes ao Regimento Interno e a eleição das Comissões de Finanças, Orçamento e Justiça. O trabalho desses honrados vereadores não era remunerado.
O Dia 19 de Março
É importante salientar, que a comemoração nessa data, coincidentemente Dia de São José, protetor dos pobres e oprimidos segundo a tradição católica, como aniversário da cidade, é recente, teve início em 1983, quando o Prefeito Joselyr Silvestre realizou o primeiro desfile cívico em alusão a data, e no mesmo ano através da Lei n° 06/83 foram criados os importantes símbolos municipais, o Brasão, o Hino e a nossa Bandeira. Alguns cidadãos remetem o nascimento de Arandu, ao dia 30 de novembro de 1963, quando foi realizado o vitorioso Plebiscito. Plebiscito, é um instituto oriundo do Direito Romano, onde a população é consultada sobre algum assunto de interesse público e social.
A Origem de Arandu
Há de se ressaltar que a origem de Arandu é remota, ela data do fim do século XIX, quando por volta do ano de 1895, houve a divisão das terras da Fazenda São José do Letreiro, que pertencia a vários sócios e foi doado um quinhão a Cúria Metropolitana de Botucatu, destinado à construção de uma Capela votiva a Nossa Senhora da Boa Morte, Padroeira da nossa cidade (15 de agosto), no encontro das águas do córrego do Barreiro com o Ribeirão bonito. A capela foi construída (onde hoje é o salão paroquial) e em seu entorno por volta de 1910, começou a surgir um povoado, chamado inicialmente de Patrimônio Nossa Senhora da Boa Morte pertencente ao município de Avaré, e mais tarde recebeu a alcunha de povoado do Barreiro, em alusão aos banhados que se formavam em dias de chuva causados pelo nosso solo vermelho e fértil. Seus primeiros habitantes, “os pioneiros”, e considerados os fundadores de Arandu, foram os senhores Caetano Fiorato, Joaquim Laú Machado, Agostinho Martins da Costa, Júlio Negrão, Francisco das Chagas Negrão, João Bento Alves, Antônio Bento Alves, João Batista Pereira e demais familiares.
Apesar das dificuldades do início do século passado, com guerras e a grave crise econômica de 1929, que afetou por demais a economia cafeeira, que era nossa base econômica, cujo ramo do fruto esta eternizado em nosso Brasão e Bandeira, o Povoado do Barreiro foi crescendo, com novas casas de taipa, madeira e alvenaria, novos moradores, casas de secos e molhados, bares, farmácia, olarias, moinho de fubá, máquinas de arroz, etc. Como benfeitorias, o Povoado do Barreiro recebeu a construção do antigo cemitério( abaixo do Posto Chaparral), rede de energia elétrica, a cadeia pública (atual posto Menechini) chegada do posto telefônico (na casa do Senhor Leão Silvestre), a instalação da Escola Mista do Barreiro até 2ª série (no hoje armazém do Joaquim Lopes) a linha de Ônibus regular, do senhor Tunico Silvestre que ligava Avaré a C.César, atravessando o Povoado semanalmente.
O Distrito de Arandu
Em 1945, pelo Decreto-Lei 14.334 do Governador Fernando de Souza Costa, o Povoado do Barreiro foi elevado a categoria de Distrito de Paz e passou a ser denominado Distrito de Arandu, porém continuava ligado administrativamente com a Comarca de Avaré, que era governada por Diamantino M. da Gama, Prefeito nomeado durante a Ditadura de Getúlio Vargas”.Foram muitas as conquistas do novo Distrito, como a retificação da estrada vicinal de acesso a Avaré, a chegada da iluminação pública, a ampliação da rede telefônica, a instalação do Cartório de Registro Civil, coleta semanal de lixo, a construção do Grupo Escolar Pedro Bento Alves, onde hoje funciona Prefeitura Municipal. Assim muitos atos públicos poderiam ser registradas no Distrito, e as crianças poderiam concluir a 4ª Série.
A Etmologia da Palavra
Arandu é um termo originário da língua indígena e no tupi significa “murmúrio de papagaio” ou “barulho de papagaio”, ave muito comum na região, sendo que o prefixo “ara”, indica a inicial de diversas aves da nossa fauna. E para os povos Kaiowás e guaranis, o termo “arandu”, se refere a “entendimento”, “conhecimento” e “sabedoria”.
O Plebiscito de 1963
Na década de 60, através de um brilhante trabalho iniciado pelo vereador “aranduense” Joaquim Lopes, foi pleiteado junto a Assembleia Legislativa a Emancipação do Distrito de Arandu e sua transformação em Município. Em 31 de outubro de 1963, foi editada a Resolução Nº 403 pelo Governador Carvalho Pinto, permitindo a realização de Plebiscitos em Distritos que desejassem a Emancipação e fossem viáveis economicamente. Depois de um árduo trabalho de ilustres aranduenses, em 30 de novembro de 1963 ocorreu o vitorioso Plebiscito, e a grande maioria da população optou pelo “sim” e o sonho de um município livre e autônomo foi concretizado.
Em 31 de dezembro de 1963, foi publicada a Lei autorizando a criação dos novos municípios onde os plebiscitos foram vitoriosos. Em 28 de fevereiro de 1964 foi promulgada a Lei nº 8.092, que criou definitivamente o município de Arandu. Porém, devido ao Golpe Militar de 31 de março de 64 que depôs o Presidente João Goulart, a instalação dos novos municípios foi suspensa e Arandu voltou ao ostracismo, e continuou sendo administrado pelo Prefeito de Avaré.
A população de Arandu só foi escolher seus mandatários, em 7 de março de 1965, com os eleitos só sendo empossados em 19 de março do mesmo ano, começando uma nova fase de nossa história que estamos comemoramos no dia de hoje.
Historiador, Edilson Mauricio Tartaglia