Com tantos projetos ou assuntos importantes como a pandemia, os 7 vereadores da base governista – Flávio Zandoná (Cidadania), Roberto de Araujo (PTB), Carla Flores (MDB), Ana Paula Tiburcio (Republicanos), Magno Greguer (PSB), Jairinho do Paineiras (PTB) e Leo Ripoli(PTB) – aprovaram moção de repúdio contra o radialista Marcelo Ribeiro, da emissora Cidadania FM.
Segundo o documento, “os microfones da emissora têm sido sistematicamente utilizados pelo citado radialista (…) Fato é que, utiliza-se o repudiado de tais canais para criticar injustamente o Poder Legislativo em razão de a maioria de seus membros não se alinharem com a forma de pensamento e os conceitos políticos do mesmo. Além disso, ferindo os mais básicos preceitos jornalísticos, as críticas são feitas sem as devidas apurações, somente com afirmações adjetivadas e rotuladas, tal como o termo “esses vereadores não fazem nada pela cidade”, “A Câmara agora virou o Xou da Xuxa” que acaba por prejudicar a imagem desta Casa de Leis como um todo, sem, no entanto, ouvir previamente todas as partes envolvidas antes da divulgação de seus comentários, desferindo ofensas aos Edis”.
Na moção eles alegam que o radialista “expõe de maneira vexatória, a todo momento, os parlamentares desta Casa de Leis” e que “seus comentários são eivados de deboches e chistes com a imagem e o procedimento dos vereadores desta Casa, com comentários ácidos e desrespeitosos, inculcando aos mesmos “apelidos”, de maneira vil, perversa e sem qualquer resquício de diplomacia, educação e/ou postura de um jornalista”.
Em entrevista ao in Foco, o radialista disse que isso é uma tentativa de intimidação por conta das denúncias que tem feito. “Não aceito nenhum tipo de censura e intimidação. A moção de repúdio não foi da Câmara, mas sim de um grupo político ligado ao prefeito”, frisou.
De fato, esse “modus operandi” – de tentar intimidar a imprensa – é comum a todos do governo atual e agora, entre alguns que eram “oposição”.
“Políticos estão expostos a críticas, reportagens, notícias, charges e outras manifestações de opinião”, ressalta Marcelo, enfatizando que em nenhum momento negou espaço para que os vereadores se manifestassem sobre denúncias ou reportagens. “Não foi um ataque a mim, mas sim a imprensa da cidade”.
O in Foco questionou o presidente da Câmara Flávio Zandoná se essa moção seria um ‘cala-boca’, mas até o momento ele não respondeu.
NOTA DA REDAÇÃO (In Foco) – Por várias vezes, o in Foco também foi vítima de intimidação, inclusive com vários processos (todos foram anulados) e ainda é, tendo em vista a política de “cancelamento” por parte do governo, não prestando as devidas informações. Repudiamos veemente a atitude destes 7 edis, numa clara tentativa de calar a imprensa porque simplesmente não querem ser criticados. Se tem algo a falar, usem seu direito de resposta (ou de defesa), mas não vamos admitir nenhuma ditadura que ofenda nossa liberdade de expressão.
NOTA DO A VOZ DO VALE – Nenhuma democracia pode viver sem uma imprensa autônoma, livre e independente. No entanto, o que temos visto ao redor do mundo é um açodamento cada vez maior da prática do jornalismo profissional.
Não importa a latitude e nem mesmo a orientação política, se de direita ou de esquerda: o que se vê são políticos, alguns bastante notórios, procurando intimidar jornalistas que tão-somente procuram fazer seu trabalho.
E o trabalho de jornalistas é questionar, sem se ater a uma pauta pré-combinada. Como bem diz uma frase atribuída a George Orwell, jornalismo é publicar o que alguém não gostaria que fosse publicado; e que o resto é relações públicas.
Ainda que não haja certeza se essas aspas tenham sido da lavra do escritor de “1984” e “Revolução dos Bichos”, ela captura a essência: para cumprir sua função social, profissionais de imprensa precisam de absoluta liberdade para fazer todas as perguntas que precisam ser feitas, ouvindo todas as fontes relevantes.
Sim, as fontes têm o direito de declinar em pedidos de entrevistas ou de dar declarações, embora, caiba lembrar, o direito à informação seja assegurado na Constituição e, nessa era de redes sociais, todas as pessoas estejam cada vez mais sujeitas a prestar contas à sociedade, principalmente em informações de estrito interesse público –em especial as autoridades e os funcionários públicos que, de posse de mandato e cargos públicos, têm o dever de dar satisfações à população sobre seus atos.
O que não se tem direito –sejam anônimos, sejam personalidades públicas– é o de acuar a imprensa ou, pior, agredi-la verbal ou fisicamente.
Lamentavelmente, não é de hoje que temos visto no Brasil uma atitude desrespeitosa e violenta contra os jornalistas, inclusive moções de repúdio para tentar intimidar o profissional de imprensa.
Não são casos isolados. Um ambiente vem colocando o trabalho da imprensa como inimiga. E isso é muito perigoso para a democracia, que, como Winston Churchill uma vez pronunciou na House of Commons, pode ser a pior forma de governo, exceto todas as demais formas já tentadas.
Sempre cabe recordar que a democracia está alicerçada em diversos pilares. No Brasil, conforme estabelece a Constituição Federal, ela está baseada e instituições consolidadas, autônomas e independentes, com pleno equilíbrio dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, cada um destes cumprindo seu papel sem atravessar suas fronteiras, todos importantes para uma nação.
Tida por muitos como “Quarto Poder”, a imprensa tem o papel de ser um canal da sociedade. E seu trabalho depende da pluralidade e liberdade de expressão.
Falar de liberdade de expressão significa ouvir as partes, dar espaço a sociedade se manifestar e ter dentro dos veículos de comunicação filtros para que não incorram em erros, descriminação, predileção, pautas pessoais e desrespeito à cultura, à história, aos hábitos da população e, em caráter específico, ao localismo.
É claro que a imprensa é formada por gente suscetível a equívocos e erros de avaliação, como em todos os segmentos da economia e da sociedade livre, pois até máquinas falham. Mas é um mau caminho atravessar as fronteiras do bom senso e partir para as hostilidades, atribuindo aos meios de comunicação problemas pelos quais ela não é responsável. Imprensa não é para só mostrar “lado bom”. Em sua busca pela verdade, ela precisa apontar divergências e contradições – o “outro lado”.
Ter opinião e expressar-se é direito de todos. Agredir é crime. Devemos e precisamos sempre combater a fake news que nos rouba o direito a verdade e a violência em todas as suas expressões.
A legislação é suficiente para punir quem erra e sempre é possível pleitear o direito de resposta.
INACEITÁVEL – O que não é aceitável é tratar a imprensa como inimiga, acuá-la, calá-la –inclusive a pontapés, como se viu em Barbacena.
A imprensa independente e profissional é um bastião das instituições democráticas. A sociedade, pelo bem da preservação da liberdade, tem o papel de repudiar estes ataques.
Em uma decisão proferida pelo desembargador Waldir Leônico Júnior (TJ/DF), o magistrado disse que os políticos estão expostos a críticas, reportagens, notícias, charges e outras manifestações de opinião. “Tais acontecimentos são inerentes à atividade política e à vida pública e não podem ser equiparados à exposição da vida privada dos cidadãos que não exercem tais atividades”, afirma Leôncio.
“Se utilizou expressões fortes, sarcásticas ou humorísticas, foi logicamente para captar a atenção da sociedade, até porque, em manifestações e movimentos de cunho político, é corriqueiro o uso de expressões com certo grau de ironia, como forma de exarar uma crítica velada sobre os fatos noticiados. Não significa que tenha tido a intenção dolosa de denegrir a honra da autora. A liberdade de pensamento não pode ser tolhida nesse caso, já atende plenamente ao interesse da sociedade”, disse o relator.
EXPOSIÇÃO PÚBLICA – Ocupante de cargo político não deve entender crítica como ofensa pessoal.
Quem ocupa cargos políticos está mais sujeito a críticas e exposto à mídia, inclusive a redes sociais. Por isso, o 5º Juizado Especial Cível de Brasília extinguiu uma ação por danos morais ajuizada pelo presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, contra a ativista Carla Zambelli.
Boudens havia pedido indenização de R$ 30 mil a Zambelli por causa de um vídeo gravado por ela com críticas a posicionamentos dele e da Fenapef. No vídeo, ela critica a Proposta de Emenda à Constituição 361, que, entre outras medidas, transforma o cargo de delegado de polícia numa progressão da carreira. Hoje, os delegados são escolhidos por meio de concursos públicos exclusivos para bacharéis em Direito.
No vídeo, publicado no Facebook, Zambelli afirma que Boudens é “preguiçoso, que quer vida fácil e deveria estudar para ser delegado federal”. Ela também diz que ele “usa de seu cargo para fazer política”. Para Boudens, “o tom utilizado é carregado de chacota e desprezo e traz, de um projeto legislativo e da opinião explicitada a respeito do ministro da Justiça, conclusão desconexa e afrontosa a sua honra”.
Em sua defesa, feita pelo advogado Geraldo Luiz dos Santos Lima Filho, a ativista disse que não mencionou o nome de Boudens no vídeo, apenas fez referência a ele, e por isso não causou qualquer dano ao policial. Segundo ela, Boudens “vestiu a carapuça”.
Na sentença, a juíza Rita de Cássia de Cerqueira Lima Rocha escreveu que Boudens “não se mostrou acessível a críticas contra seu ponto de vista a respeito de questões de interesse dos policiais federais”. “Era de se esperar que o presidente da Fenapef não levasse a questão para o lado pessoal, mas que tivesse o bom senso de valer-se da situação e defender seu ponto de vista no ambiente democrático das redes sociais.”
Com informações do Jornal In Foco e do Poder360